quarta-feira, 2 de junho de 2010

Preces de Maio

Ave ! Palavras cantadas
entre linhas do destino
que se entrecruzam na vida ;
Ave ! Luz das madrugadas
emergente como um hino,
da ventura renascida .
                                   
        Salve ! Alívios dos ais
        que da ânsia se libertam
        nas tardes longas dos dias ;
        Salve ! Véus dos esponsais
        que em fé os "Deuses" convertem
        quando se esvaem fobias .

                Ave ! Cheiros de ervas doces,
                 sabores de pão torrado
                 em brasas de azinho ardido ;
                 Salve ! Silêncio das noites,
                 lençol de linho bordado,
                 meu sono de paz dormido .

              E é por mor deste desejo,
             entrelaçado em novelo
             com força de saudação ;                 Queeu deito a mão ao ensejo
                           enredado no desvelo
                            guardado no coração .   
                                                              Cascais,28 de Maio,2010

"O Gato à Janela"

Estava de chuva e na rua não se via "vivalma" àquela hora.Atrás da vidraça embaciada pelo seu próprio bafo,o Gil,contemplava as gotas de água que caíam ritmicamente  na calçada,ressaltando em divertidos salpicos,formando,aqui e ali,pequenas poças.Enquanto observava aquele espectáculo que a natureza lhe proporcionava,congratulava-se pela sorte que tinha,por poder usufruir o prazer de ver chover sem se molhar.
_Quem anda à chuva molha-se ! Dizia com frequência o seu dono-e ele sabia como era verdadeiro aquele ditado-tantas vezes o comprovara já;por isso ,melhor apreciava agora a faculdade de estar à janela a ver chover.E como aquela chuva lhe moldava o temperamento,normalmente fogoso e irrequieto !...
Sentia que aquele tempo lhe causava uma agradável nostalgia,que sabia saborear, semicerrando os olhos e ronronando baixinho.
_É boa esta vida de gato !?...pensava lembrando-se do desatino do dono e de outros humanos :
_Como a horas certas,durmo se tenho sono e tenho o privilégio de desfrutar o prazer de ver chover,sem  a desagradável sensação de molhar o pêlo !
 Embalado naquela tranquilidade que a chuva branda lhe transmitia,cerrou levemente as pálpebras,escondendo à difusa luz de fim de dia, o cinzento claro dos seus lindos olhos,dormitando num daqueles sonos leves dos gatos.
 Menos de quinze minutos passados,abriu de novo os olhos e olhou a rua.A chuva parara e o sol brilhava agora,fazendo reflectir círculos coloridos, das poças d'água deixadas pela chuva .
 Então,abriu a boca num grande bocejo,espreguiçou-se longamente e miou tes vezes o nome do dono :_Miauquim !!! Miauquim !!! Miauquim !!!...
  Vendo que o dono respondera ao seu chamamento, corre feliz para a porta que ele entretanto lhe entreabrira , erguendo o rabo na vertical em forma de agradecimento, sai para o quintal apressado, 
na ânsia de poder gozar aquela réstia de sol de fim de tarde.
                                                                                                   Cascais,Fevereiro de 2001.